quarta-feira, 19 de junho de 2013

Brisas


"A escuridão me basta"



“A escuridão me basta”

 

"Senhor, é quase meia-noite e estou Te esperando na escuridão e no grande silêncio.
Lamento todos os meus pecados.
Não me deixe pedir mais do que ficar sentado na escuridão, sem acender alguma luz por conta própria, nem me abarrotar com os próprios pensamentos para preencher o vazio da noite na qual espero por Ti.
Deixa-me virar nada para a luz pálida e fraca dos sentidos, a fim de permanecer na doce escuridão da Fé pura.
Quanto ao mundo, deixa-me tornar-me para ele totalmente obscuro para sempre. Que eu possa, deste modo, por esta escuridão, chegar enfim à Tua claridade.
Que eu possa, depois de ter me tornado insignificante para o mundo, estender-me em direção aos sentidos infinitos, contidos em Tua paz e Tua glória.
Tua claridade é minha escuridão. Eu não conheço nada de Ti e por mim mesmo nem posso imaginar como fazer para Te conhecer.
Se eu te imaginar, estarei errado.
Se Te compreender, estarei enganado.
Se ficar consciente e certo que Te conheço,  serei louco.
A escuridão me basta".

 

 (Thomas Merton)

 

 

Brisas




quarta-feira, 12 de junho de 2013

O Instante Mágico - Paulo Coelho


 

O instante mágico

É preciso correr riscos. Só entendemos bem o milagre da vida quando deixamos que o inesperado aconteça.
Todos os dias Deus dá-nos, junto com o sol, um momento em que é possível mudar tudo o que nos deixa infelizes. Todos os dias procuramos fingir que não percebemos este momento, que ele não existe, que hoje é igual a ontem – e será igual a amanhã.
Mas, quem presta atenção ao seu dia, descobre o instante mágico.
Ele pode estar escondido na hora em que enfiamos a chave na porta pela manhã, no instante de silêncio logo após o jantar, nas mil e uma coisas que nos parecem iguais. Este momento existe – um momento em que toda a força das estrelas passa por nós, e nos permite fazer milagres.
A felicidade às vezes é uma bênção – mas geralmente é uma conquista.
O instante mágico do dia ajuda-nos a mudar, faz-nos ir em busca dos nossos sonhos.
Vamos sofrer, vamos ter momentos difíceis, vamos enfrentar muitas desilusões – mas tudo é passageiro, e não deixa marcas. E, no futuro, podemos olhar para trás com orgulho e fé.
Pobre de quem teve medo de correr os riscos. Porque este talvez não se decepcione nunca, nem tenha desilusões, nem sofra como aqueles que têm um sonho a seguir. Mas quando olhar para trás – porque sempre olhamos para trás – vai escutar o seu coração dizer: “o que fizeste com os milagres que Deus semeou pelos teus dias? O que fizeste com os talentos que o teu Mestre te confiou? Enterraste-os fundo numa cova, porque tinhas medo de perdê-los. Então, esta é a tua herança: a certeza de que desperdiçaste a tua vida”.
Pobre de quem escuta estas palavras. Porque aí acreditará em milagres, mas os instantes mágicos da vida já terão passado.

 

Paulo Coelho

trecho de “Na margem do rio Piedra eu sentei e chorei”

 

Puentes


Homenagem à escritora Elsa Bornemann, que há poucos dias fez a sua passagem. Um dos seus mais belos poemas, "Puentes".
 

Yo dibujo puentes
para que me encuentres:
Un puente de tela,
con mis acuarelas...
Un puente colgante,
con tiza brillante...
Puentes de madera,
con lápiz de cera...
Puentes levadizos,
plateados, cobrizos...
Puentes irrompibles,
de piedra, invisibles...
Y Tú...¡Quién creyera!
¡No los ves siquiera!
Hago cien, diez, uno...
¡No cruzas ninguno!
Más... como te quiero...
dibujo y espero.
¡Bellos, bellos puentes
para que me encuentres!


Elsa Bornemann