Mal acordada, abri a janela e o alvorecer entrou, reflexos de pérola tingiam o lilás, de novo florido, vizinho sempre presente dos meus despertares.
Firmei a visão, e descobri-o…o raminho balançava, e o piar não parou, era uma saudação!
Afastei a cortina com cuidado e certeza…era ele! Em voo directo sem hesitação, pousou no parapeito, e de novo me olhou com acuidade e firmeza.
- A minha memória retrocedeu três dias, quando deparei com o piar aflito de um pardalito, nas vidraças da marquise fechado, exausto, na luta inglória de buscar uma saída para o Sol, que do outro lado do vidro o convidava.
Sem saber há quantas horas aquela luta durava, o seu bico aberto era já um grito de estertor. Escancarei a porta, apartei com cuidado os fios que o enredavam e esperei.
Voltou-se, ignorou a porta aberta, e poisou no meu ombro. Do bico aberto ainda em aflição, já não saía nenhum som, apenas era perceptível o do seu pequeno coração.
Não fugiu à minha mão, com a outra, um ninho formei, onde o aconcheguei.
O Reiki fluiu de mansinho, na calidez do toque, no som da voz, cerrou os olhos e adormeceu. Transportei-o para a horta, junto à nascente, e entreguei-o nos braços do limoeiro.
Abriu os olhos, das asas fez um leque, com o qual me acenou, e voou…
Expresso ao Universo a minha profunda gratidão, pela certeza de que esta (a gratidão) é inerente a todas as almas sensíveis, até, às dos pássaros.
Adelina
23 de Junho de 2011