O Convidado
Não demos por ele chegar…
- será que arribou com o primeiro trinar
da madrugada, inquieta, de sono arredio, pela ânsia de o ver
chegar
- ou talvez pela cascata de cristal,
que sem pressa, se redime no sem-fim do tempo, amaciando com
doçura arestas conflituantes
- será que veio nos rostos sulcados
dos mercadores, cuja esperança alimentamos com sorrisos de ser
- ou quiçá, no embalo ondulante do
carvalho secular, que atapetou o chão da cor do fulgor
- seria na fusão do tempo e espaço, no
linguajar cantante do Minho a montante, garimpo das raízes que a história
apagou
- quem sabe ainda, se na travessia do
rio da equação, emoções curadas, amores embalados…apenas…em tule de terna
recordação
- estaria entre as margens? do
passado e do presente, em que a bruma aponta firmemente…caminha…
As horas escoavam-se pelas mãos
laboriosas no pormenor, no sabor, temperadas de música e dança, perfumadas de
tanto amor…o convidado estava a chegar…
E o momento plasmou, a mesa conjugou
a alquimia, partilha do pão e do vinho, bálsamo de lágrimas que à terra elevou,
e a sublime voz murmurou :
- Porque me esperais? Se nunca me ausentei!
Sou o saber das vossas mãos, a fé que vos move, a cura no vosso
olhar, o amor que espelhais.
Sou a magia que co-criais, abundância da fonte suprema, que se
tornam no meu corpo e sangue… em que renasço… sempre e quando, a partilhais.
Uma história de Ano Novo
Maria Adelina
31 de Dezembro 2011 / 01 de Janeiro
2012