segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Uma história (viva e real) de uma noite de Ano Novo


O  Convidado

Não demos por ele chegar…

- será que arribou com o primeiro trinar da madrugada, inquieta, de sono arredio, pela ânsia de o ver chegar

- ou talvez pela cascata de cristal, que sem pressa, se redime no sem-fim do tempo, amaciando com doçura arestas conflituantes

- será que veio nos rostos sulcados dos mercadores, cuja esperança alimentamos com sorrisos de ser

- ou quiçá, no embalo ondulante do carvalho secular, que atapetou o chão da cor do fulgor

- seria na fusão do tempo e espaço, no linguajar cantante do Minho a montante, garimpo das raízes que a história apagou

- quem sabe ainda, se na travessia do rio da equação, emoções curadas, amores embalados…apenas…em tule de terna recordação

- estaria entre as margens? do passado e do presente, em que a bruma aponta firmemente…caminha…

As horas escoavam-se pelas mãos laboriosas no pormenor, no sabor, temperadas de música e dança, perfumadas de tanto amor…o convidado estava a chegar…

E o momento plasmou, a mesa conjugou a alquimia, partilha do pão e do vinho, bálsamo de lágrimas que à terra elevou, e a sublime voz murmurou :


- Porque me esperais? Se nunca me ausentei!

Sou o saber das vossas mãos, a fé que vos move, a cura no vosso olhar, o amor que espelhais.

Sou a magia que co-criais, abundância da fonte suprema, que se tornam no meu corpo e sangue… em que renasço… sempre e quando, a partilhais.


Uma história de Ano Novo

Maria Adelina
31 de Dezembro 2011 / 01 de Janeiro 2012