Saudade
Como a cada amanhecer, faça chuva ou faça sol o chilreio insistente fez-me
olhar a arvorezinha singela que ali bem defronte da minha janela, se tornou assistente
privilegiada da minha fonte.
E lá estavam elas, as avezinhas… melros, rolas, passarinhos, numa miscelânea
de formas e feitios, como sempre, fitavam a janela.
Saudei-os, e os pios intensificaram-se, balouçaram os ramos numa dança
concertada, distenderam as asas com graça e rumaram à descoberta das cores do Céu
deste dia.
E a palavra surgiu, saudade…sentimento que conforme a pessoa que o emite, é
muitas vezes expresso por outras palavras e expressões…
Só podemos ter saudade daquilo que já fizemos, mas se já fizemos, porquê
sentir saudade?
A nossa Alma faz o percurso da descoberta, pela experiencia, pelas
vivencias…e em cada uma, e de cada uma, retira a pérola, única no seu valor,
componente da jóia final do nosso percurso de vida.
O que nos faz sentir saudade, é que a maior parte das vezes não estamos
inteiros na vivencia, seja pelo apelo dos sentidos, pela falsidade da postura,
pelo distanciamento formado pelo julgamento e pelo preconceito, pelo medo que
se tem dos próprios sentimentos, e por muitas outras e diversas razões.
Mas a Alma, essa é livre de todos esses condicionamentos. Apenas uma certeza
a move que por sua vez é a sua razão de existência, ou seja a necessidade da
vivencia, e aí, como um perfume mais ou menos intenso, instala-se a saudade.
Saudade, que por vezes vem de longe, de paragens que os sentidos comuns
não conseguem ainda acessar, e nestes casos devemos entregar ao Céu, consagrar
a partícula divina que está em tudo, e aceitar, a paz interior que toda
compreensão acarreta.
Os pássaros voltaram…numa alegria contagiante dão graças pela vida nova
que cada novo dia lhes concede em novos reconhecimentos de caminhos para o Céu.
Que o Amor Superior inunde todos os campos do ser integral para que possamos
despedir a saudade.
A.
29 de Fevereiro de 2012