Em sereno passeio à beira-mar reparei numa âncora sem cor, pela areia escondida, desfazada do seu habitat. Sentei-me a seu lado e fui ouvindo as suas glórias e venturas:
Firmo as naus nas tempestadas, quando as ondas alterosas abalroam
Sou guia, fio de vida, aos que vêm explorar as maravilhas do mar
Uma âncora sustém e alivia em tempo de faina, ao vento refrear
Por vezes, no oceano esquecida, sou o colo, da jazida de coral
Outras tantas, sou farol sem luz dos horizontes perdidos dos navegantes
Âncora não prende, eleva-se e flutua, imprime destino aos ciclos do tempo
Sou minério, pelo fogo transformado em abraço, fusão, mas, em libertação
dos sedimentos em transmutação, dos argonautas, que se regem pelo coração
Âncora somos todos e cada um, que por entre a tormenta, laçamos estrelas, ancoramos o Céu
A.
A.